2023-05-17

Dia Mundial das Telecomunicações: importância do serviço em cenário de guerra


Ainda estávamos a recuperar de uma pandemia quando, a 24 de fevereiro de 2022, o continente europeu foi assolado por uma guerra. Cerca de um ano e três meses depois do seu início, a importância das telecomunicações em cenário de crise ficou mais do que provada.

Temos a tecnologia e os meios necessários para acompanhar um conflito 24 horas por dia. Desde o dia em que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, decidiu invadir o seu vizinho a oeste, as plataformas de comunicação portuguesas e mundiais têm estado atentas e feito atualizações ao minuto, multiplicando-se as manchetes de jornal, emissões televisivas, debates nas rádios e redes sociais.

Muito deste conteúdo é produzido pelos próprios cidadãos da Ucrânia que, diariamente, partilham as suas experiências em plataformas como o Facebook, Instagram e Twitter. Entre estes porta-vozes, destaca-se Volodymyr Zelensky, presidente do país, que através de vídeos regulares apela ao apoio internacional e estimula o movimento de resistência ucraniano.

Por reconhecer a sua relevância, alguns dos primeiros alvos do exército russo incluíram empresas de energia, media e telecomunicações. A qualidade da transmissão de dados por redes fixas de banda larga diminuiu e várias estações de base dos operadores móveis ficaram fora de serviço. Assim, uma vez mais, o setor das telecomunicações demonstrou ser vital para um país. Recorde-se que o desenvolvimento da própria internet foi justificado por uma preocupação militar.

A batalha que se trava entre a Rússia e a Ucrânia é, assim, o último e talvez mais importante exemplo sobre o uso das redes de informação como arma de uma guerra. Os líderes do setor de alta tecnologia pediram mesmo que se desligasse completamente a Rússia da internet global. No entanto, a Corporação da internet para Atribuição de Nomes e Números (ICANN), órgão responsável pelo controlo da internet, respondeu negativamente, argumentando que a missão da entidade não inclui a tomada de ações punitivas.

De acordo com a União Internacional das Telecomunicações (UIT), “numa tentativa de bloquear o acesso aos recursos web ucranianos, o escritório do Status, um fornecedor de serviços internet baseado em Kherson, foi invadido, intimidado e forçado a ligar o seu equipamento às redes russas”. Além disso, através da ocupação de infraestruturas de telecomunicações ucranianas, as forças russas puderam redirecionar o tráfego ucraniano para fornecedores de serviços russos, conseguindo, desta forma, vigiá-lo. Apenas 3 meses depois do início da guerra, Liliia Malon, comissária ucraniana para as infraestruturas e serviços digitais, declarava haver mais de 700 prestadores de serviços nacionais sob ocupação russa.

A Ucrânia afirma que a Rússia está a conduzir uma campanha de propaganda para disseminar desinformação. Segundo um estudo do serviço de segurança informática londrino Top10VPN, “a grande maioria das ameaças digitais ocorreu em áreas ocupadas, onde as forças russas restringiram o acesso à internet, introduziram medidas de censura digital e assumiram o controlo das infraestruturas de telecomunicações”.

Durante as fases de cessar-fogo, os técnicos e engenheiros correm contra o tempo para fazer as reparações necessárias e restaurar os serviços. Em abril de 2022, a operadora Kyivstar somava cerca de 3.000 reparações de infraestruturas feitas por 450 técnicos em 110 cidades e mais de 10 quilómetros de cabo ótico restaurado. No total, quase 90 por cento da rede de banda larga fixa da empresa de telecomunicações tinha sido danificada. Em agosto, o número de km de cabo de fibra ótica restaurado subiu para 30 km e o número de reparações tinha, também, aumentado. Alguns meses depois, Mykhailo Fedorov, vice-primeiro-ministro da Ucrânia e ministro da transformação digital, tweetava: “A Rússia planeou deixar-nos completamente desligados, mas a nossa infraestrutura de telecomunicações só ficou mais forte”.

Apesar da resistência ucraniana, as telecomunicações e a conectividade à internet tornaram-se cada vez mais difíceis. A resiliência dos sistemas de informação e comunicação deste país foi abalada.

Ainda assim, a União Internacional de Telecomunicações está otimista, considerando que os danos causados na infraestrutura de comunicações da Ucrânia em várias regiões do país, serão, no futuro, uma oportunidade para o país desenvolver infraestruturas de telecomunicações última geração.