2023-05-05

Inovação empresarial em tempos de crise? Inovação sempre!


A conjuntura económica resultante de dois anos de pandemia foi agravada por uma guerra em território europeu e consequente crise energética e inflacionista. Apesar da esperada recessão e descida do PIB mundial, 2022 encerrou com várias economias a refletirem resiliência, entre elas a portuguesa. O Produto Interno Bruto nacional registou um crescimento de 6,7%, o mais elevado desde 1987 e, em 2023, o Banco de Portugal prevê que esta tendência se mantenha. A inovação tem vindo a ser apontada como uma das principais alavancas para este resultado.

Na minha opinião, os verdadeiros motores da atividade económica são o progresso e a inovação. Segundo Peter Drucker, o negócio tem apenas duas funções: o Marketing e a inovação. Em qualquer dos casos, inovar é o denominador comum. As crises são sempre bons estímulos para pensar de forma diferente e inovar. Costumo dizer que a necessidade é a mãe da criatividade. No entanto, há processos e dinâmicas de inovação que devem ser trabalhados em tempos de bonança. Como em tudo, a inovação deve ser coerente e consistente.

Inovar no meio de uma crise é bom. Certamente preparará melhor a empresa para futuras crises e contribuirá para que mantenha ou conquiste a liderança de mercado, mas dificilmente terá efeitos a curto prazo. As organizações devem investir constantemente em inovação com o propósito de se tornarem diferenciadoras, resilientes, mais competitivas e, assim, estarem mais bem preparadas para enfrentarem períodos mais difíceis ou serem pioneiras.

Repare-se que as empresas têm um tempo médio de vida muito curto, não porque os negócios acabam, mas porque se transformam. O mundo evolui cada vez mais depressa e se não nos transformarmos, se não inovarmos, aparecerá alguém que faz melhor ou com mais valor aquilo que fazemos.

São já várias as grandes empresas que estiveram na crista da onda e caíram por não acompanharem a dinâmica do mercado. Veja-se o exemplo da Nokia. Em 2007, era líder mundial em smartphones, enquanto a participação da Apple no mercado era inexistente. As inovações que o iPhone trouxe, como o ecrã touch, interfaces gráficas mais simples e, mais tarde, a App Store, iniciaram uma transformação radical no universo dos smartphones levando a Apple à liderança.

O mesmo aconteceu com a Blockbuster, rede de lojas de aluguer de filmes em formato físico, com presença a nível mundial e líder de mercado destacadíssimo durante anos, mas que se deixou antecipar pela newcomer Netflix, passando de uma faturação 6 mil milhões de dólares em 2004, para o fecho de portas em 2010.

Não inovar, subestimar as inovações dos (novos) concorrentes ou reagir tardia e lentamente pode levar qualquer empresa da glória à decadência em poucos meses. A inovação é, por isso, fundamental, não em tempos de crise, mas para a empresa se perpetuar, resistir às crises, antecipar ou mesmo liderar as tendências de mercado.

Pensar que outros virão e poderão ser melhores do que nós, é, por si só, um grande estímulo a inovar. Se não queremos ficar para trás nessa corrida, isso deve encorajar-nos a que, constantemente, procuremos novos caminhos, outras formas de fazer diferente. Se não inovarmos, o que fazemos vai esgotar-se e/ou perder valor.

A inovação não é só importante em tempos de crise. A inovação é essencial para a sobrevivência de qualquer negócio, em qualquer momento.


Ricardo Salgado

CEO da dstelecom

 

Fonte: Dinheiro Vivo